Objeto transicional: um mediador entre mãe e filho
- Psicóloga Sabrina R. Prates
- 18 de jul. de 2017
- 3 min de leitura
Acompanhar, confortar, consolar, servir de apoio, dar segurança, acalmar - uma ponte entre a mãe e o mundo externo, isso é o que os objetos transicionais fazem. Sua importância é tão grande, que até alguns personagens infantis onde quer que estejam carregam para todos os lados uma chupeta, um cobertorzinho que a criança segura e cheira, um bichinho de pelúcia esfarrapado, um travesseirinho adorado…

Visto por W. D. Winnicott como um fenômeno complexo dependente do processo de amadurecimento, que decorre da qualidade do ambiente em que o bebê se encontra, o objeto transicional tem a função de servir como mediador entre a mãe (não necessariamente a própria mãe do bebê, mas alguém que exerça esse papel) e o filho, entre o eu e o não-eu, o mundo interno (aquilo que faz parte dela) e o externo. É uma representação entre o momento da transição do bebê de um estado em que está fundido com a mãe\ambiente para um estado em que está em relação com ela, separado dela.
Os recém-nascidos não conseguem perceber que ele e o ambiente (a mãe ou outros cuidadores), são distintos um do outro; o bebê tem a ilusão de que o seio da mãe é parte do seu próprio corpo, são uma coisa só. É por volta do terceiro mês de vida que se inicia o processo de discriminação, onde esse ser único é transformado em dois - eu e o outro. A partir daí, para que consiga de alguma maneira minimizar a angústia gerada pela separação é comum que o bebê utilize a ponta da fralda, do cobertor, chupar o dedo, emitir pequenos sons, etc..
A maioria das crianças elegem um objeto transicional entre o quarto e o décimo segundo mês - daí, logo é dado forma a área da ilusão, onde ali terá um objeto externo. Esta é a importância do objeto transicional, permitir que o objeto externo represente aquilo que é interno do bebê, faz parte ao mesmo tempo da fantasia e da realidade da criança. Onde, além de ser ela quem escolhe o objeto para si, este também pertence e é controlado por ela - é a criança quem decide o quão distante quer ficar ou quando quer ficar com o objeto.
Ao mesmo tempo em que o objeto é amável e torna-se inseparável, ele também é atacado, tornando-se um depositante de seu ódio e amor, sem que seja destruído. A criança faz com o objeto o mesmo que faz com os pais: ama-os, mas em alguns momentos pode odiá-los. E fica para os adultos o desafio de sobreviver aos ataques.
O objeto é importante para o bebê, mesmo que esteja sujo, rasgado ou quebrado - os pais jamais devem criar uma ruptura entre a criança e o objeto. Caso isso aconteça, pode ser que haja uma perda de significado e de valor do objeto para o bebê. Dessa maneira, é de suma importância que seja permitido pelos adultos que o objeto transicional exista em sua plenitude até que no decorrer do processo, ele simplesmente perca seu significado, permitindo então que a criança possa confiar em si mesma e nas pessoas que a rodeiam, tornando-se um "ser total", pronto para encarar e enfrentar o mundo externo. Qualquer tentativa de substituição do objeto, é vista pela criança como uma agressão, basta lavá-lo para que a criança não mais o reconheça como tal.
Veja quando tentam pegar o cobertor do Linus.
Lembre-se: jamais faça isso com a criança!
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